Se entendermos que há um elo entre riquezas naturais e ciência e tecnologia, poderemos guiar importantes saltos tecnológicos.
Nas últimas décadas, a Amazônia tem dominado o debate ambiental internacional. O Brasil, que era referência nos espaços internacionais sobre o tema do meio ambiente desde a Rio-92, se transformou em pária internacional. O ponto de virada foi o governo Bolsonaro, que negou a ciência e a educação, fechou os olhos para as queimadas, negligenciou o avanço do desmatamento e contribuiu para o crescimento do genocídio indígena.
É urgente que o Brasil reconstrua sua política de proteção da Amazônia, mas, para que isso seja algo enraizado no projeto do Estado brasileiro, é necessário projetar políticas estratégicas que cumpram nossas tarefas de proteção e soberania da região.
Atualmente, podemos identificar duas abordagens majoritárias sobre o tema da Amazônia: a primeira, ideologicamente liberal, está concentrada numa perspectiva de metas e diretrizes impostas sob uma epistemologia do centro para a periferia; a segunda se baseia numa abordagem militar, ancorada num viés voltado para segurança e numa linha belicista, representando uma movimentação perigosa que pode levar ao aumento das bases militares na região.
A proteção da Amazônia se soma a outra tarefa imprescindível: a integração regional desse importante território. Para alcançar a verdadeira integração da América Latina, devemos começar por uma política forte e complexa, a partir de uma epistemologia própria, que tenha como objetivo a defesa de nossa soberania e biodiversidade.
Com isso em mente, defendemos a criação de uma Universidade da Integração Amazônica, uma universidade temática e internacional como principal ferramenta para a construção dessa política, a partir do fomento de educação, pesquisa, ciência e tecnologia voltadas para a biodiversidade da Floresta Amazônica, com inclusão e participação dos povos inseridos nela e vizinhos.
Se avançarmos em compreender que há um elo fundamental entre riquezas naturais e ciência e tecnologia, poderemos guiar importantes saltos tecnológicos para o desenvolvimento da humanidade. A Universidade da Integração Amazônica com caráter internacional poderia fortalecer o avanço da integração regional dos povos amazônicos, espalhados pelos territórios de Colômbia, Venezuela, Equador, Brasil, Bolívia, Guiana, Peru, Suriname e Guiana Francesa.
O tema já é debate entre estudantes latino-americanos. A defesa da integração regional e soberania por meio da Universidade da Integração Amazônica foi aprovada na reunião do secretariado geral da Organização Caribenha e Latino-Americana de Estudantes (Oclae) — organização representante de 38 entidades estudantis da região —, que ocorreu em abril de 2023, em Bogotá.
O primeiro passo fundamental seria a interligação das universidades da região, avançando no tema da cooperação regional a partir da educação. Criar um programa de mobilidade regional para estudantes, pesquisadores e professores do ensino superior, na teoria e prática, é determinante para a integração regional.
Entre os debates e desafios, devemos apostar na criatividade perante a urgência de futuro, que deve sobrepor dualidades limitadas e priorizar a criação de empregos, renda e sustentabilidade na região. Para isso, o caminho, mais uma vez, deve ser o investimento em ciência e tecnologia para criar soluções para o futuro da América Latina.
Aos nossos desafios, devemos apresentar nossas respostas. Nós, estudantes amazônicos, apostamos na criação de uma Universidade da Integração Amazônica, com maciço investimento em ciência e tecnologia que olhe para a biodiversidade da floresta.
*Amanda Harumy é membro da Secretaria Geral da Organização Continental Latino-Americana e Caribenha dos Estudantes (Oclae), Bruna Brelaz é presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Vinícius Soares é presidente da Associação Nacional dos Pós- Graduandos